Com a
aproximação da primavera vem-nos à memória aquelas imagens bucólicas dos campos
em flor, o chilrear dos passarinhos, as canções de amor… Mas há também o lado
negro de todo este romantismo… Com a chegada da primavera há sempre aquela
tendência dos mais velhos se finarem o que acontece também no outono, diga-se. Enfim,
manias dos idosos… Como sou friorento assumido, preferiria encetar essa longa
viagem sem regresso em pleno verão mas isso é também uma mania de gente idosa
que agora não interessa nada…
Até
hoje não consigo compreender como fui capaz de antecipar o meu nascimento a
poucas semanas da chegada da primavera! Acho que até hoje ela, a Primavera,
nunca me perdoou tal indelicadeza. Estou convencido que a culpa foi da minha
mãe que, farta daquela gravidez serôdia, me “botou” para o mundo sem me dar
outra hipótese que não fora mesmo a de nascer…
E
descansem os meus amigos (e principalmente os inimigos) porque não estou minimamente
interessado na tal “viagem” sem regresso, pelo menos enquanto souber que alguém
me ama. Estou convencido que a maioria dos idosos se despede deste mundo exactamente
por não se sentirem amados. A falta de amor é letal
para o ser humano, seja em que idade for…
Será
esta a explicação da elevada taxa de mortalidade entre os idosos neta época do
ano em que toda a natureza se renova? Talvez seja por falta de vontade ou força
anímica para acompanharem a renovação da natureza…
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na
Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
(Fernando Pessoa)
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