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sexta-feira, 30 de março de 2012

AUSENCIA


Há dias em que uma ausência…uma simples ausência…nos deixa com o cérebro a latejar… como se todos os neurónios se entrelaçassem numa confusão total. Cada um tentando encontrar uma razão que justifique essa ausência…Cada um testando uma hipótese que explique e/ou justifique a razão dessa ausência. Todos contribuindo para encontrar uma explicação…para o inexplicável…
As ideias confundem-se, entrelaçam-se, emergem e submergem do nada…até que dizemos a nós próprios: Basta!!!
Mas este “basta” não é o suficiente para estancar completamente essa torrente de ideias. De vez em quando lá nos atravessa o cérebro uma delas… Nem o trânsito, a música que escorre do autorrádio, nem os sinais luminosos conseguem desviar-nos dessa obsessão de encontrar uma razão dessa ausência para a qual, no dia seguinte, talvez nos seja dada uma explicação credível…ou não…!
À mesa, a família reunida em dia de festa. E, no lugar de honra, instala-se de mansinho… a ausência.
Há dias em que mesmo rodeados pelos entes mais queridos, continua por preencher aquele vazio que se sente cá dentro no mais profundo do ser.

Há dias assim...

quinta-feira, 29 de março de 2012

SENHOR MOCHO


Senhor mocho, por favor
Já que você  sabe tudo
e até faz contas de cor,
diga com quantos berlindes
é que afinal ficarei
se der metade ao João,
pois dos trinta que comprei
apenas tenho um terço
que os tirou meu irmão.

O mocho que tudo sabe,
desta vez ficou calado.
Se alguém puder ajudá-lo,
o caso fica arrumado
                                   Jorge Leal

quarta-feira, 28 de março de 2012

PEDRAS NA MÃO


A rua que me deste era vazia,
nem mesmo os cães queriam lá passar!
A rua era sombria,
ensombrou-me o olhar.
                                             
Ao dobrar cada esquina sinto o bafo
que tem a solidão.
Nas pedras da calçada onde me estafo,
as mesmas pedras que trago na mão.
                                            
E nessa mão, o gesto,
(ambos sós).
E nesse gesto, às vezes,
minha voz.
                                           Jorge Leal

terça-feira, 27 de março de 2012

CLARIVIDÊNCIA



Há dias que não deviam existir, não fora consequentemente também não existirmos. Nesses dias, de facto, não existimos. Simplesmente não vemos, não ouvimos, não falámos, não comemos… Não se caminha, flutua-se no éter por entre a multidão, quase invisíveis…Parece até que se não respira.
Mais ou menos conscientemente, sabe-se o motivo deste estado de espírito. As causas que o despoletaram é que não são bem claras. Pode ter sido uma palavra, um olhar furtivo, ou até mesmo um silêncio…
Nesse instante, nesse preciso instante, toma-se consciência que afinal não somos o centro do universo…o ser mais importante… Não somos, nunca fomos, nem seremos tão importantes, tão insubstituíveis como acreditávamos ser. E essa dolorosa tomada de consciência torna-se quase insuportável.
Há dias em que a nossa clarividência nos leva a conclusões impertinentes…São dias negros, dias tristes, duma tristeza sem fim…
Há dias assim...


domingo, 25 de março de 2012

SENHOR TRIÂNGULO

Havia um certo triângulo,
senhor de um grande nariz.
O coitado, em cada ângulo,
sofria da bissectriz
que ora se confundia
com eixo de simetria.

Esta grande confusão,

sempre lhe acontecia
em qualquer ângulo interno,
ou em qualquer posição.

Andava naquele inferno,
ardia naquela chama...
Relativamente aos lados,
nem sabe como se chama!
                                           Jorge Leal

sexta-feira, 23 de março de 2012

INDIFERENÇA

Se falo, ninguém responde.
Se choro, ninguém consola
a mágoa que no rosto se esconde
levantando a gola
                                                         Jorge Leal



quinta-feira, 22 de março de 2012

EM MEMÓRIA DO FARRUSCO

mais do que um cão, um amigo

Como nós eras altivo
fiel mas como nós
desobidiente
Gostavas de estar connosco a sós
mas não cativo
e sempre presente/ausente
como nós.
Cão que não querias
ser cão
e não lambias
a mão
e não respondias
à voz.
Cão
como nós

(Sei que andas por aí, ouço os teus passos em certas noites, quando me esqueço e fecho as portas começas a raspar devagarinho, às vezes rosnas, posso mesmo jurar que já te ouvi uivar, cá em casa dizem que é o vento, eu sei que és tu, os cães também regressam, sei muito bem que andas por aí.)

Manuel Alegre, Cão como nós

terça-feira, 20 de março de 2012

ROLA, ROLA SEM PARAR...

Para fazer jus ao título que dei a este blog, só faltava… uma adivinha.

Tenho duas bases
e uma só face.
Gosto de rolar.
Eu nunca me canso
e quando me lanço,
não posso parar...

Não sei onde vou,
não posso parar!

Digam lá quem sou,
toca a adivinhar.

                         Jorge Leal

sábado, 17 de março de 2012

FIBONACCI

Como professor de Matemática, embora aposentado, não será de estranhar que dê início a estas mensagens pessoais com um pensamento matemático. Por mais que se tente negar…professor uma vez…professor para sempre…

Sequência

Com um mais um navios no alto mar,
fiz duas tentativas e voei.
Paguei com três moedas e fiquei
nos meus cinco sentidos a sonhar.

Aos oito dias fui eu navegar

em oito ondas...
Oito, mas tamanhas...!

E quanta espuma branca nesse mar

onde te banhas...!

E eu não sei nadar...

                                   Jorge Leal

quarta-feira, 14 de março de 2012

QUEM SOU EU?

Não me perguntem quem sou.
Bem ou mal,
sou como sou.
- Mas quem sou eu afinal?

Sou a flor e sou o espinho…

…apenas uma pedra no caminho.
Sou o voo da ave no horizonte.

Sou a melodia

da água na fonte.

Sou a noite em pleno dia.

                                  Jorge Leal
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