Etiquetas

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

QUAL O SEU MAIOR DEFEITO?

Se lhe perguntassem qual o seu maior defeito saberia dizer qual é sem hesitar? A pergunta já é um cliché nas entrevistas de emprego daí a sua pertinência. É normal sentir alguma dificuldade em reconhecer que se tem defeitos. É que aos nossos olhos somos perfeitos, não temos defeitos e mesmo reconhecendo que os temos, ninguém se sente confortável a falar dos seus defeitos.
Quer do ponto de vista social quer do profissional, todos temos defeitos, o difícil é identifica-los e mais ainda catalogá-los.
Foi com esta pergunta que me confrontei hoje nem sei a propósito de quê. Tenho de admitir que tive dificuldade em identificar o meu maior defeito na mesma media em que a sentiria se me pedissem para identificar a minha maior qualidade. Qualquer defeito, aliás como qualquer sentimento, em determinadas circunstâncias pode considerar-se uma qualidade e vice-versa. Catalogar um sentimento como defeito ou qualidade é tarefa altamente subjectiva. Estou a lembrar-me, no meu caso, do perfeccionismo. Ser perfecionista pode ser uma qualidade em determinada profissão e ao mesmo tempo, ser um defeito no âmbito familiar. Mas não será esse o meu maior defeito. Depois de criteriosa introspecção, cheguei à conclusão de que é o orgulho. Neste momento estarão a relacionar orgulho com o seu lado mau, isto é, nariz empinado, complexo de superioridade, desprezo pelos outros, …. Ora, como todos os sentimentos, o orgulho vale o que vale, ou seja, não é mau nem bom. A forma de o expressar é que faz toda a diferença.
O meu é mais um orgulho estilo inglês Pride que se traduz por um forte sentido de dignidade. É aquele orgulho que sufoca o grito de dor, que seca as lágrimas nos olhos, que amordaça o pedido de ajuda quando é mais preciso. Enfim, é um orgulho no seu melhor, que não chateia e que nos poupa ao sentimento de piedade.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O VÍCIO DA LEITURA

Pois é, ninguém diria que com 19 meses apenas já consegue ler apesar de ainda não falar correctamente. É assim a Princesinha, muito precoce em variadíssimos aspetos, mas no gosto pela leitura, convenhamos sai ao avô. Para já são só revistas, mas lá para os dois anitos e meio, tenciono iniciá-la nos clássicos da literatura universal. Claro que se trata de uma brincadeira da minha parte, mas a curiosidade e poder de observação da pequenita promete. A ver vamos.
O vício da leitura só traz vantagem a quem o tem e é tão prejudicial para quem gosta e quer manipular a vontade das massas… Efectivamente, através da leitura acumula-se conhecimento, enriquece-se o vocabulário, estimula-se a criatividade além de nos permitir viajar através de lugares desconhecidos pondo-nos em contacto com diferentes culturas e diferentes hábitos. Isso protege-nos de fundamentalismos e ajuda a manter a mente aberta à diferença. Ora são precisamente estas aptidões que muitos governantes não querem ver desenvolvidas nas suas populações. Os livros são armas de libertação que podem alterar realidades e mudar sociedades.

Ler é verdadeiramente viciante e, como todos os vícios, pode mesmo tornar-se doentio se descontrolado ao ponto de não ter outros interesses. Eu sou do tipo de pessoa que tem necessidade de ter sempre um livro para ler à cabeceira. Contudo, não pode ser um livro qualquer, de preferência que seja um best seller o que não é de todo garantia que seja um bom livro. Já tenho tido decepções que ficaram registadas neste blogue. Actualmente, o meu livro de cabeceira é “O quarto de Jack” de Emma Donoghue. Com apenas 75 páginas lidas das cerca de trezentas é ainda cedo para emitir uma opinião sobre a obra. Desde já declaro a minha intenção de assistir ao filme que em breve estreia em Portugal.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

EM CADA DIA UM NOVO RECOMEÇO

Por mais escura e longa que seja a noite há sempre um amanhecer. E ainda bem que assim é. É bom amanhecer, saber que nos foi concedido mais um dia e mais uma hipótese de recomeçar.
Todos sabemos que não é possível voltar atrás e começar de novo seja o que for. O que está feito, está feito. Não há forma de o desfazer. Contudo, é-nos permitido em cada novo dia, já que não é possível construir um novo princípio, construir um novo fim.
Há quem se recuse a amanhecer e queira permanecer na sua zona de conforto. E quem pode jurar que já não lhe aconteceu ficar na cama com medo de acordar?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

UMA HORA FELIZ

Uma hora feliz (ou uma boa hora) é o que se deseja habitualmente a uma grávida numa qualquer conversa informal que ocorra em plena rua, no supermercado, café da esquina,… muitas vezes sem mesmo conhecer a futura parturiente. Com esta expressão pretende-se desejar que a dita senhora tenha um bom parto.
As coisas mudam, evoluem, surgem novas modas e a expressão “hora feliz” acabou por se inglesar e ganhar um outro significado para além do desejo de uma hora feliz. A “hora feliz” passou a designar-se happy hour, convertendo-se numa estratégia de marketing com a finalidade de, durante um certo período de tempo, vender determinado artigo (geralmente bebidas) abaixo do seu preço normal. A moda, originária dos Estados Unidos, difundiu-se rapidamente através de vários países da Europa. Em Portugal, a happy hour é hoje bastante comum em bares e restaurantes onde se podem consumir bebidas e cocktails a preços promocionais.
Num país tradicionalmente conservador como o nosso, a confusão está instalada. Desejar a uma senhora uma happy hour pode dar origem ao embaraço de ouvir como resposta:
- Não estou grávida. Isto são só gases.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

É POR ISSO QUE SÓ COMO FRUTA DESCASCADA

Ter ciúmes é normal, dizem. É normal sentir receio de perder o que se tem e aqui é que reside o cerne da questão, o ter medo de perder o que se tem… Na realidade nada nos pertence em definitivo assim como não pertencemos a ninguém. Tudo nos foi emprestado para usufruirmos durante esta vida.
Se eu tenho ciúmes? Claro. Como diria o meu amigo João Negreiros, "Tenho um ciúme doido de quem não tem medo de perder o que tem". Sim já tive ciúmes até ao dia que compreendi que “controlar o outro é exactamente o impossível por isso descontrolo o outro para que a minha influência seja o que quero para mim”.
Ter ciúmes é normal, dizem. Dizem para se desculpar do doentio sentido de posse, da falta de capacidade para o desapego. Mas também o desapego tem os seus perigos. Se muito praticado, corre-se o risco de o ténue elo de ligação se quebre ao mínimo sopro de uma contrariedade na relação. Tudo tem o seu perigo quando em excesso…
Ainda assim tens ciúmes?
“Tens ciúmes do namoradinho, és parva.
Tens ciúmes do primo que tinha mais brinquedos, és um triste.
Tens ciúmes da bandeira de outro país, emigra… palhaço.
Tens ciúmes da gaja boa… vai pôr umas mamas. 
Tens ciúmes do carro do Armindo… vai tirar o passe.
Tens ciúmes porque é giro, arranjaste um par de cornos.
……….
“O ciúme é o caroço do amor. É por isso que só como fruta partida e sem casca.”
In "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

UM "NÃO", ÀS VEZES, É PRECISO

Ao longo da minha actividade profissional como formador tive oportunidade de ler, reler e partilhar a importância de um não na formação da criança. Ao contrário do que muita gente pensa, um “não” deve ser entendido como um ato de amor. Está provado que a criança precisa de conhecer e aceitar que existem limites para quase tudo na vida. Uma criança a quem não foram impostos limites torna-se um adulto com dificuldade em enfrentar as vicissitudes da vida, menos tolerante e por consequência, mais infeliz. O “não” na hora certa contribui para a formação de um adulto mais saudável.
Mas não são só as crianças que precisam de ouvir um não. O mesmo se adapta entre adultos. Não raras vezes somos solicitados para tarefas que alteram os nossos planos de vida e, o que é mais grave, prejudicam a própria saúde. Às vezes é preciso dizer não. Dizer sim quando está cheio de tarefas por realizar ou quando a sua saúde está mais debilitada, não ajuda. Depois ninguém vai fazer por si as tarefas que ficaram por fazer nem ninguém vai ter tempo para lhe prestar os cuidados mínimos que a sua saúde exige… Lembre-se disso.
Um não, às vezes, fica bem… e é preciso!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

ESPERAR FAZ PARTE DA VIDA...?

Viajar pelo interior do país, além de nos permitir desfrutar de belas e variadas paisagens, possibilita-nos por vezes deparar com cenas do quotidiano que para além de caricatas encerram todo o dramatismo da interioridade…
Ver alguém, vergado pelo peso da idade, sentado no banco de uma estação desactivada há já alguns anos como quem espera um comboio que jamais virá, além de desconcertante deu-me que pensar. Na verdade, passamos a vida à espera de qualquer coisa, seja o que for mesmo sabendo que não vai acontecer.
Diz-se que a esperança é a última a morrer. Talvez por isso a gente espera mesmo sabendo que nada do que se espera acontecerá. Não há dúvida de que a vida seria seguramente menos complicada se não se esperasse nada, mas a gente espera.
Faz parte da vida esperar. É o que nos mantém vivos enquanto se espera a morte chegar, neste caso, que venha tarde… Afinal sempre se espera.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

À PROCURA DO EU

Há dias em que a gente não se encontra entre aquilo que é e o que já foi. E entre uma coisa e outra acaba por não se reconhecer no que é sem que ao mesmo tempo deseje ser o que já foi. Se a escrita parece confusa que fará o que se passa na cabeça de quem acorda assim…
Há dias em que a gente não se reconhece por tudo que abdicou e deixou passar ao longo da vida por comodismo, medo ou falta de competência… Nesses dias, em que as emoções esbarram num passado demasiado presente e num presente demasiado esbatido, a gente não se reconhece no ser em que se transformou.
Há dias assim

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

NINGUÉM ENTRA NUM BARCO PRESTES A NAUFRAGAR

Não, por favor não me fales mais de futebol e principalmente de política. Às vezes o silêncio preenche muito mais os espaços vazios que há dentro de nós do que todas as futilidades que se possam dizer. Por isso, poupa-me aos discursos sobre o tempo, futebol ou política da direita do centro ou da esquerda, tanto faz. Tem dó. Se acreditas no que te dizem os políticos, mantem essa paz que a ignorância proporciona. Se outra vantagem não tiver, a ignorância permite a abstração dos problemas que nos cercam. Se não acreditas, mas algum interesse te move, poupa-me à maçada de ouvir os teus argumentos. Por mais que digas, acredita, não me convences. Há uma voz que me guia e alerta para o que está certo ou errado. Embora nem sempre lhe dê ouvidos, é verdade, mais porque me convém do que por surdez. Há verdades que preferimos ignorar para não sermos obrigados a sair da nossa zona de conforto… Pelos mares da direita, centro ou esquerda, o mesmo barco navega independentemente da bandeira hasteada. Ninguém entra num barco que está prestes a naufragar se não tiver em mente saquear algum tesouro que ainda se encontre a bordo… por pequeno que seja.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

FELIZ DIA DOS AFETOS

Há quem prefira festejar o “Dia dos Namorados”, há quem lhe chame “Dia de São Valentim”, há quem recuse torná-lo um dia especial. Sendo naturalmente avesso ao festejo destes dias especiais seja do que for não os costumo festejar através de qualquer acto simbólico. Não porque seja contra o namoro, a amizade, a criança, o professor, … e todo os outros dias que se celebram ao longo do ano. Acho que todos são dignos de serem festejados nos 365 dias do ano e não num dia específico só porque é o seu dia. Enfim, pontos de vista que não critico e respeito quem tem um ponto de vista diferente. Aceitando a necessidade ou gosto de festejar o dia de São Valentim, preferiria chamar-lhe “Dia dos Afetos”. Bem sei que o namoro envolve afetos, mas os afetos são muito mais abrangentes do que o namoro. Os afetos são os sentimentos que partilhamos com todas as pessoas ou animais que considerámos especiais e que por isso amámos. Neste sentido, seria um dia para festejar com um abraço, um beijo, uma palavra ou mesmo uma frase que expressasse a amizade, o amor pela família e pelo próximo, pelos animais e sei lá que mais! Todos os nossos afetos, mesmo os mais secretos.
Feliz Dia dos Afetos

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

VOA MAIS ALTO QUEM TEM ASAS PARA VOAR

Nascemos para voos mais altos, no entanto, há quem teime em esvoaçar rente ao chão por considerar inacessíveis os seus objectivos de vida.
Ter asas, não significa saber voar já que todos, mesmo não sendo anjos, nascemos com elas. Contudo, para as tornar aptas para o voo, é preciso exercita-las, perder o medo de encetar voos cada vez mais altos. Voa mais alto quem tem asas para voar…
Estou a lembrar-me do magnifico livro que li e reli “Fernão Capelo Gaivota” e da célebre frase, “Vê mais longe a gaivota que voa mais alto”. Na verdade, à medida que nos elevamos conseguimos alargar horizontes, ver mais longe e reduzir a uma pequena escala futilidades que, para quem vive rente ao chão, assumem uma enorme dimensão.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A RAZÃO POR QUE ESCREVO

Tinha acabado a leitura do livro “A Rapariga no Comboio”, um best seller escrito por Paula Hawkins (Ler aqui). O livro, editado a 5 de junho em 2015, tornou-se rapidamente um sucesso de vendas. Este sucesso, mais do que merecido, tem muito a ver com a análise psicológica que a autora faz dos seus personagens. Toda a gente comporta no passado algo de que não se orgulha e que ensombram o seu presente. Quando confrontados com determinadas situações toda a gente é capaz dos mais incontrolados acessos de fúria podendo mesmo chegar ao ponto de matar… (?). Na verdade, ninguém é perfeito. Ao longo do livro, Paula Hawkins atinge o âmago das relações humanas através dos seus personagens. Há quem queira ver neste livro apenas um tríler policial, mas a autora vai mais além ao descrever magistralmente os conflitos emocionais dos seus personagens que estão na base das suas reacções e comportamentos.
Era inevitável, face ao sucesso atingido, uma adaptação ao cinema da obra. Com efeito, a Disney já anunciou a estreia mundial de “A Rapariga no Comboio” para 7 de outubro deste ano. Sempre que acabo a leitura de um livro como este, interrogo-me por que razão insisto no solitário acto de escrever.
Durante alguns anos escrevi poesia, agora escrevo mais prosa porque a poesia é o que é e nem sempre os pensamentos cabem num verso… Às vezes encontro as palavras certas para dizer o que sinto, mas a vergonha ou medo impede-me de as dizer… Por isso, escrevo! Escrever, para mim, acaba por ser uma espécie de catarse do pensamento o que permite dar espaço a novos pensamentos…
Numa frase e repetindo o que já escrevi (Ler aqui), diria que escrevo porque sou péssimo a dizer o que sinto.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

OS MARIDOS DAS OUTRAS FICAM SEMPRE A GANHAR

Toda a gente sabe que os homens são feios
Mas os maridos das outras não
diz a canção de Miguel Araújo.
E remata com os versos,
Porque os maridos das outras são
O arquétipo da perfeição
O pináculo da criação.
Dóceis criaturas, de outra espécie qualquer
Que servem para fazer felizes as amigas da mulher.
Sempre me ocorrem ao pensamento estes versos a propósito dos elogios que invariavelmente as senhoras aproveitam para tecer ao marido de uma outra amiga ausente. É frequente vir à baila todo um rol de qualidades que sabemos não existirem porque, conhecendo ou não o dito cujo, a nossa experiência de vida nos diz ser impossível tal harmonia conjugal principalmente ao fim de uns bons anos de convívio. Quase receio que se ouçam as estridentes gargalhadas interiores (sim porque também existe o riso interior) que tais elogios me despertam.
Ninguém é perfeito e muito menos aos olhos daqueles que mais de perto convivem connosco. Todos sabemos que manter em equilíbrio um relacionamento não é tarefa fácil. E não se pense que as reclamações das “camas por fazer, as mesas por levantar, o jantar por fazer, a falta de mimos e atenções” fazem parte apenas do universo feminino. Já muitas vezes as ouvi saídas da boca de alguns homens. Talvez não sejam o arquétipo da perfeição...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

MENTIR PARA NÓS PRÓPRIOS PARECE QUE RESULTA

Estou bem, digo a mim próprio mesmo sabendo que não estou. Dizer que estou bem faz-me pensar que efectivamente estou mesmo bem sem estar. Mentir para nós próprios é um comportamento a que recorremos todos os dias, ao longo de um dia de forma mais ou menos inconsciente. Do ponto de vista moral, porque se trata de uma mentira, é uma atitude reprovável mesmo sendo para nós próprios. Então por que continuámos a mentir mesmo admitindo tratar-se de um hábito reprovável?
São muitos e variados os motivos que nos levam a mentir para nós próprios. Muitos são também os psicólogos que se têm dedicado ao estudo do que estará na essência deste bizarro comportamento humano. Através desses estudos científicos, chegaram à curiosa conclusão de que as pessoas que mentem para si próprias são mais bem-sucedidas nas diferentes áreas da actividade humana além de serem mais felizes o que se torna compreensível através do aumento da auto estima. Não me custa acreditar na validade desta conclusão, basta observar o que se passa com a nossa classe política…
O problema está no momento em que se descobre que afinal não estamos tão bem como nos convencemos estar, nem somos tão eficientes e importantes como nos fizemos crer…

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

NO TEMPO DAS FLORES

Todos os dias havia uma flor. Invariavelmente, todos os dias, à mesma hora, havia uma flor. Bem, nem todos os dias e nem sempre à mesma hora... mas havia uma flor, sempre diferente, sempre bela, sempre... uma flor. Na verdade, às vezes a flor faltava, fosse porque não havia florista por perto, porque algum olhar indiscreto não permitia o segredo ou por falta de vontade, mas quase sempre havia uma flor... E as flores têm aquela estranha magia de expressarem sentimentos, têm uma linguagem secreta que, sem falar, dizem tudo.
Ninguém sabia ao certo de onde vinha nem a quem se destinava, aliás ninguém sabia que havia uma flor. Era um segredo apenas entre quem a recebia e quem a oferecia.
Subitamente, fosse qual fosse a razão, sem que nada o fizesse prever, deixou de haver uma flor, o que não é de todo verdade. A flor ainda lá está, seca, murcha, sem cor, sem vida, mas ainda uma flor que para sempre será guardada e aguardada. É que há palavras que são como as flores de tão coloridas e perfumadas…

domingo, 7 de fevereiro de 2016

UM PÔR DO SOL DIFERENTE

Gosto de ficar em frente ao mar a ver o sol mergulhar no oceano e ao mesmo tempo, observar quem caminha ao longo da praia gozando aquela estranha calmaria que convida a arrumar pensamentos e pacificar emoções… Alguém passeia o cão lá em baixo no areal. De vez em quando atira para longe um pequeno tronco que o mar deu à praia e logo o cão o persegue em alegre correria. De cada vez que o cão regressa com o pequeno tronco na boca, volta a atirá-lo para longe num gesto que me parece mais maquinal do que pensado. Enquanto o pau vai e vem, não folgam as costas como diz o ditado, mas pergunto-me que pensamentos povoam aquela cabeça. Que dramas, que conflitos, que emoções lhe pululam no pensamento? A raiva que transparece no arremesso daquele pau leva-me a pensar se, com ele, não irão também algumas das frustrações, desilusões e angústias que lhe vão na alma. Quem sabe? Toda a gente carrega algumas no mais profundo do seu ser.
Enquanto isto, o sol está prestes a mergulhar no oceano. Tivesse eu distraído o olhar por mais tempo naquela cena que se desenrolava no areal e teria perdido um maravilhoso espectáculo do pôr do sol.
Já vão longe cão e dona. Desta vez o pau foi arremessado com mais força para o mar talvez na tentativa de afogar o que quer que lhe povoe o pensamento e lhe aperta o coração.
O sol acabou de mergulhar no oceano sem que antes não tivesse colorido o céu de uma tonalidade rubra dourada.
Gosto de ficar em frente ao mar, de frente para o sol porque assim todas as sombras se projectam nas minhas costas…

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CHEGA SEMPRE O DIA DO "LARGA-ME DA MÃO"

Há dias em que nos assalta a saudade de coisas que a seu tempo considerámos desagradáveis e desnecessárias. Comigo aconteceu naquele dia, um belo dia de sol de Inverno embora soprasse um vento frio já habitual na minha rua. Mais uma vez fazíamos o percurso entre casa e o café da esquina já por nós percorrido vezes sem conta. Por precaução, amizade ou talvez num gesto de carinho, seguíamos como habitualmente de mão dada até porque era necessário atravessar a rua em direcção ao café. Já do outro lado da rua, o pequenote agora senhor dos seus sete anitos pede para o largar da mão… Aquele “larga-me da mão” ficou a soar dentro da minha cabeça como o badalar de um sino em dia de finados. De facto, aquele gesto, mais do que o lado físico, assinalava o início de uma nova fase nas nossas vidas.  Subitamente, de forma sub-reptícia, veio até mim aquela saudade do tempo ainda tão recente em que ele dependia dos pais e avós para quase tudo. Recordo os seus primeiros meses de vida que, incoerentemente, nos pareciam intermináveis na ansia de o ver sentar, manter-se em pé, dar os primeiros passos, balbuciar as primeiras palavras,…
A vida é assim, eles crescem ao mesmo tempo que vão conquistando a sua autonomia física e emocional e em nós fica a saudade. Eles crescem, é facto, mas para nós, serão sempre crianças, qualquer que seja a idade.
Afinal, na vida de toda a gente, chega sempre o dia do “larga-me da mão”…
Há dias assim

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

DETESTO DIZER ADEUS

Detesto despedidas mesmo que seja por um breve espaço de tempo. Nesse caso basta dizer “até amanhã” ou um “até logo” … na dúvida, que sempre subsiste, geralmente prefiro um “tchau” seja o que isso possa significar. Obviamente sei que se trata de uma interjeição de despedida com origem no idioma italiano (mais especificamente no dialeto veneziano). Para mim é o mesmo que dizer “até logo”, “até à vista”, “até breve” … “até quando puder ser”.
De todas as interjeições usadas como despedida a que mais odeio é o adeus…. Dizer adeus implica rotura de laços físicos e emocionais, é algo de irrevogável ao nível das relações humanas, assim o entendo.
Em qualquer circunstância, prefiro o “tchau” com o que para mim significa…

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

ESCREVO PORQUE SOU PÉSSIMO A DIZER O QUE SINTO

Hoje apetece-me escrever. Há dias em que não me apetece… e escrevo. É por isso que publico textos que não fazem qualquer sentido a não ser em mim…. Escusado será tentar interpretar cada verso meu, cada palavra que escrevo porque todo o sentido está em mim…
Escrevo porque é a única maneira de ser ouvido… quiçá compreendido. Escrevo porque tenho a cabeça demasiado cheia de pensamentos, escrevo para a esvaziar… o que não faz de mim um escritor. Como diria Carlos Drummond de Andrade, “Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas das suas inquietações, dos seus problemas íntimos, que os projectou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada.”
Honestamente devia dizer que escrevo porque sou péssimo a dizer o que sinto…

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

DIZEM QUE O TEMPO CURA TUDO

Dizem que o tempo cura tudo. Com o tempo eu aprendi que o tempo não cura nada nem coisa nenhuma. Como se o tempo fosse antibiótico para as dores do corpo e da alma! Com o tempo, as dores do corpo tornam-se ainda mais graves e as da alma ali permanecem como que adormecidas até que um cheiro, uma melodia, uma palavra, uma paisagem, uma foto, … as acordem. O tempo não cura tudo apenas nos conforma com o que não pudemos mudar.
Se o tempo cura tudo, então de donde vem aquela saudade que se espalha suavemente como bruma que abafa todos os sons e nos isola da realidade? Donde vem aquela dor já alguma vez sentida e que se volta a fazer presente? De onde vem a saudade de alguém que partiu sem tempo para dizer adeus?
Dizem que o tempo cura tudo. Diz-me a experiência que o tempo não cura nada.

Batido por furiosos vendavais! 
– Eu fui na vida o irmão de um só Irmão, 
E já não sou o irmão de ninguém mais!

Florbela Espanca
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...