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sábado, 14 de setembro de 2019

O PRIMEIRO DIA


Por saudosismo ou por que vinha a propósito, relembrei os livros da minha “instrução primária”. Entre eles, o que mais me marcou pelos seus magníficos desenhos, foi o livro da primeira classe.
Como acontece sempre na vida de uma criança, chegou aquele dia em que, obrigatoriamente, fui à escola pela primeira vez. Para alguns, é um dia de alegria enquanto que, para outros, a tristeza marca para sempre a vida de um indivíduo. À alegria de fazer novas amizades e das brincadeiras no recreio, sobrepunha-se o natural receio do desconhecido mas, sejam quais forem os sentimentos que desperte, o primeiro dia é inesquecível. Recordo vagamente esse dia e devo confessar que não é das memórias mais gratificantes. Lembro a fotografia tirada no jardim anexo à casa com o fim de assinalar o primeiro dia de escola. O familiar que fazia as vezes de fotógrafo ordenou-me que sorrisse. Sorri. Outro familiar conduziu-me até ao portão da escola onde fiquei entregue a mim mesmo… Como não conhecia ninguém e devido ao meu temperamento, não fiz amizades nem brinquei com ninguém. Ao toque da campainha segui atrás dos outros para a sala de aula. O professor, um homem bondoso e autor de livros propôs, como primeira tarefa, que fizéssemos um desenho. Com este procedimento, conseguiu aliviar o nó instalado no meu estômago. Nesse dia não chorei. Há muito que tinha interiorizado que um homem não chora. Desde esse dia, passei a chorar por dentro já que, em certos momentos, toda a criança tem vontade de chorar… e existe sempre uma criança escondida dentro de cada um de nós.

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