Etiquetas

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

CONVERSAS DE ESPLANADA

Em qualquer esplanada, estando só, é impossível não escutar fragmentos de conversas à nossa volta. Na mesa ao lado estavam sentados lado a lado dois ilustres anónimos em animada conversa de frente para o mar. A expressão facial de um deles que consultava amiúde o relógio, revelava que não fazia ideia do tempo decorrido em que estava a ouvir o seu interlocutor. De tempos a tempos deixava o olhar vaguear distraído pelo mar ao mesmo tempo que ponderava mentalmente a veracidade de cada palavra que escutava. Aqui e ali encontrava uma certa discrepância ente as palavras que escutava e o pensamento do interlocutor. Depois de tantos anos de treino, não me foi uma grande surpresa detetar essa mesma discrepância perante o tom de voz e da postura que exibia. Além disso, o tema de conversa era o fastidioso, nada que pudesse alterar o curso deste velho planeta que afinal decorria na mesma indiferente à conversa que ocorria outra mesa... A certa altura, algo captou a minha atenção naquele discurso fastidioso. Atrás daquele longo discurso havia uma mentira adivinhada através da omissão dos factos exaustivamente demonstrada… Em qualquer conversas há sempre algo que se esconde seja por medo, vergonha ou simplesmente para evitar destruir a imagem que se projetou. O que me irritou foi não conseguir compreender o motivo daquela omissão!

Ao longe, em plena praia, as ondas continuavam a desfazer-se continuamente na areia numa sequência que ao fim de um tempo se torna monótona.

De repente, o que escutava distraído apercebeu-se do silêncio que se instalou ao redor. Não é que desgostasse do silêncio, mas este teve o mérito de acabar com a conversa. O tamborilar dos nós dos dedos no tampo metálico da mesa manifestava a impaciência de quem escutava pacientemente aquela conversa aparentemente sem qualquer nexo. Olhando outra vez o relógio pigarreou com se fosse dizer uma coisa muito importante sem fazer ideia, penso eu, do que era suposto dizer naquela situação. Aclarou de novo a garganta e declarou, amanhã vai estar bom tempo… pela cor do céu… parece…

No horizonte, o sol já tinha iniciado o seu lento a mergulho no oceano como se a cor, pouco a pouco, se diluísse e contagiasse, além das águas também o céu com aquele tom avermelhado.

Com um arrastar lento das cadeiras metálicas os dois amigos partiram deixando ficar aquela paz que só o silêncio dá.

Nem tudo o que parece, de facto é. Apesar do boletim meteorológico anunciar chuva fraca para o dia seguinte, nada impede que o sol volte a brilhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...