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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

UM ESTRANHO RITUAL


Ao deparar com um queijo flamengo sobre o balcão da cozinha, fui transportado a outra época, a outros tempos que recordo com saudade. O sentimento não se devia ao queijo mas daquela segurança que dava a presença dos pais como uma guarda avançada entre mim e a própria morte… Pela ordem natural da vida, eles deviam partir primeiro o que me permitia pensar ingenuamente que a minha hora ainda vinha longe…
Naquele tempo, havia o curioso ritual, à laia de sobremesa, de degustar uma ou mais fatias de queijo. Toda a mesa  se reunia à volta do queijo. Depois do jantar e da “sobremesa”, havia sempre lugar para um cafezinho instantâneo ao qual era adicionado um “cheirinho” de bagaço adquirido directamente ao lavrador… Presumo que a preferência pelo queijo flamengo em detrimento do queijo da serra venha daí. Estou mesmo convencido que a escolha deste tipo de queijo para sobremesa não se devia ao meu gosto mas porque o queijo flamengo, nesse tempo, era mais em conta.
Os anos passaram, casei, fui pai e mais tarde avô e acabei por ficar na linha da frente… Pelo menos, quero acreditar que deste modo, consigo entrepor-me à restante família…

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