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quinta-feira, 7 de maio de 2015

NAQUELE TEMPO CONTAVAM-SE TOSTÕES

O senhor Joaquim era marceneiro. Digo era porque actualmente o senhor Joaquim já não é nada. O mais que poderia ser era cinza, pó e… nada. O senhor Joaquim já não existe mas ficou em mim a recordação do que ele era. Recordo-o como um homem pacífico, trabalhador, e caseiro. Raramente era visto na mercearia da esquina onde, ao fim da tarde, se juntavam os homens lá do Largo para beber uns “quartilhos” de tinto e jogar as cartas. Nesse tempo, o vinho era vendido ao “quartilho” e raramente ao litro porque os “escudos” não abundavam e contavam-se os tostões. Lembro-me de fazer recados e de ir à mercearia comprar três tostões de salsa. O senhor Joaquim tinha oficina na rua do Sol e daí seguia calmamente para casa ao fim do dia. Lembro-me dele como um homem de meia-idade quando eu ainda era menino. Quando digo menino refiro-me a ser menino de 6 ou 7 anos. Na oficina do senhor Joaquim, que me lembre, não se construíam móveis. Faziam-se apenas pequenas reparações como colocar o fundo ou a perna de uma cadeira que se partira. Nesse tempo os móveis consertavam-se quando estragados, não se corria ao Ikea a comprar novos. O Ikea nem sequer existia tal como também já não existe o senhor Joaquim… Todos os dias, a caminho da escola, passava à porta da oficina e quase sempre via os mesmos trastes que ali ficavam à espera de serem consertados. Não havia máquinas tudo era feito à base do serrote, formão, maço, martelo e pouco mais. Não faço ideia como era a oficina por dentro, ali reinava a escuridão. Hoje me interrogo se o que ganhava naquela oficina daria para sobreviver. Mas naquele tempo, contavam-se os tostões e na mercearia da esquina havia “o livro de fiados” e lá se ia pagando ao fim do mês, depois de contados os tostões.

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