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sexta-feira, 10 de abril de 2015

O PRIMEIRO DIA DE ESCOLA

Por um daqueles impulsos saudosistas incontroláveis, como é vulgar acontecer ao comum dos mortais, adquiri os livros da minha “instrução primária”. Eram assim designados os quatro primeiros anos de escolaridade. De todos esses livros, o que mais me ficou gravado na memória foi o da 1.ª classe. Como acontece na vida de qualquer criança chega sempre o dia de ir à escola pela primeira vez. É um dia de alegria para uns, de tristeza e receio para outros. À alegria de fazer novas amizades e da brincadeira no recreio, junta-se o medo de enfrentar o desconhecido… Seja ele qual for, estes sentimentos fazem do primeiro dia de escola um dia inesquecível. São imagens que ficam gravadas para sempre nas nossas memórias de infância. Recordo, embora vagamente, o meu primeiro dia de escola e devo confessar que não é de todo uma memória muito gratificante. Lembro-me de acordar mais cedo para tirar uma fotografia que ficaria para a posteridade… O cenário escolhido foi o jardim público que ficava ao lado do prédio onde morava. O fotógrafo, meu pai, mandou-me sorrir. Sorri, mas por dentro o receio do desconhecido apertava-me o estômago. Foi a vez de a minha mãe me acompanhar até ao portão da escola onde me deixou entregue à minha sorte. Como não conhecia ninguém e devido à minha peculiar timidez, não fiz amizades nem brinquei com ninguém. A campainha tocou e lá fui atrás dos outros para a sala de aula. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro professor. Creio que se chamava António Branco e era autor de livros escolares. Era um homem um tanto distante mas de uma estrema bondade o que me permitiu afrouxar um pouco o nó que sentia na no peito e no estômago. Como primeira tarefa, mandou-nos fazer um desenho talvez com o intuito de nos ajudar a descontrair. Algumas crianças ainda choravam desde o momento que as mães as tinham deixado na escola. Eu não chorei. Há muito que tinha “aprendido” que um homem não chora e que isso era coisa de mariquinhas. Desde aí, passei a chorar por dentro já que toda a criança tem necessidade de chorar para crescer e há sempre uma criança que permanece dentro de cada um de nós…

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