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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

UMA VIAGEM DE COMBOIO

Embalado ao som do rodado da carruagem nos carris e do zumbido irritante do ar condicionado do outro lado do corredor, o pensamento liberta-se saltitando de pensamento em pensamento. De um lado e do outro a paisagem corre em sentido contrário a uma velocidade vertiginosa. Não sei onde vai, apenas sei para onde quero chegar. Consigo sentir já a impotência de quem nada pode fazer. Faço apenas questão de estar presente. Nada mais posso fazer o que é já motivo de sobra para minimizar o sentimento de impotência. Perante este pensamento fecho os olhos só para não ver as imagens que rodopiam no meu pensamento o que as torna ainda mais visíveis.

Chegam até mim as vozes abafadas dos outros passageiros. Não sei o que dizem nem me interessa. Não me interessa o que dizem nem os seus problemas. Quando o sofrimento físico ou moral prevalece, fica-se mais egoísta.
A paisagem continua a correr em sentido contrário ao deslocamento do comboio sem que alguém a possa conter. Viajo de costas como se com essa atitude conseguisse virar costas aos problemas.
Naquela modorra anestesiante provocada pelo som constante do atrito das rodas nos carris do, guardo o secreto desejo de que a viagem nunca termine.
Lá fora, a paisagem começa a abrandar recusando-se a acompanhar o comboio que começa a diminuir a marcha. Por fim, detém-se. A viagem chegou ao fim.

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