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quarta-feira, 21 de junho de 2017

ANDO DEVAGAR

Ninguém nos avisa quando somos novos, e muito menos depois de velhos, que a nossa zona de conforto pode mudar repentinamente. É daquelas coisas que toda agente sabe, mas ninguém se atreve a verbalizar.
Três vezes por semana (pelo menos), pego na bengala e percorro a galeria no meu passo ziguezagueante, desço as breves escadas lenta e cuidadosamente que conduzem ao estacionamento onde me espera a viatura que me conduzirá ao hospital. O que dantes me parecia levar imenso tempo, actualmente, demora muito mais…
Tudo isto porque um dia adormecemos com a nossa idade e acordarmos com a idade que teria a nossa mãe, se fosse viva. Pois é, ninguém nos avisa que nos tornaríamos lentos depois de velhos. Não nos sobra tempo para uma adequada habituação à nossa nova postura. Tudo acontece depressa demais e o mal (ou bem) é que nos lembrarmos do tempo em que já fomos rápidos… Então, desprezávamos a lentidão dos que nos são próximos, e não só, e pensámos que “isso” nunca acontecerá connosco.
Hoje, sorrio quando chego à portaria, não por ter conseguido chegar, mas pelo sorriso. Sorrio ao empregado do café, a toda a gente e ando devagar sem que isso me envergonhe ou aborreça, quero crer. Ouço com frequência a canção que hoje em dia me baila na mente a toda a hora, ando devagar porque já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais
Os dias em que calcorreava veloz por essas ruas fora podem ter terminado, com muita pena minha, mas decidi continuar em frente. E quando eu decido…

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