Se
calhar deveria antes dizer: todos à volta do queijo. Na casa de meus pais, havia
o curioso ritual após o jantar, de degustar uma ou mais fatias de queijo. Na
altura, a que agora é minha mulher, frequentava a minha casa e por vezes lá
jantava. Por isso ainda se lembra deste ritual da fatia de queijo flamengo
acompanhado de um cafezinho instantâneo com um cheirinho de bagaço puro de
lavrador … Não sei qual a razão da escolha do queijo flamengo em detrimento do
queijo da serra de que o meu padrasto tanto gostava mas desconfio (talvez por
ser mais barato)… Pessoalmente, prefiro o queijo flamengo ao queijo da serra.
Peço desculpa desta minha preferência posidónia… Nem quero pensar que a escolha
do queijo flamengo era feita em atenção à minha preferência porque isso faz doer ainda
mais a minha ingratidão daquela época.
Que
saudade me invade perante estas recordações! E tudo isto porque hoje encontrei sobre
o balcão da cozinha um quarto de queijo flamengo com que me deliciei depois do jantar. Só faltou o bagacinho... Mas a saudade não era de modo algum do queijo
flamengo ou dos jantares em família. A saudade que me tomou de assalto era mais
daquela segurança de saber que nos meus pais eu tinha ali uma guarda avançada
que me protegia até da própria morte… Pela ordem natural da vida, seriam eles
os primeiros a partir e isso fazia-me pensar ingenuamente que a minha hora viria ainda longe.
Depois
da partida dos dois velhotes com um intervalo de alguns anos, senti-me
desprotegido. Era eu que agora estava à frente para enfrentar a vida e a
própria morte…
Os
anos passaram, casei, fui pai, sou avô e cá estou eu estoicamente na linha da
frente… De certo modo, sinto-me confortável por saber que nesta posição
poderei defendê-los das ciladas da vida e até da própria morte… Pelo menos,
deixem-me acreditar que assim é.
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