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terça-feira, 31 de julho de 2012

O PRAZER DE DIZER NÃO

Perdi muito desse hábito de dizer não mesmo antes de ouvir o que me era pedido ou oferecido. O meu primeiro impulso perante uma dessas situações era invariavelmente dizer NÃO.
Levei muita tareia pelo prazer que me dava dizer não. Essa mania, se assim se pode chamar, nasceu da relação conflituosa que sempre tive com o meu pai. Por mais tareia que levasse a minha resposta era sempre NÃO. Consigo ainda visualizar perfeitamente aquela régua metálica flexível com duas borrachas na parte inferior para não escorregar sobre o papel. Era com essa régua que meu pai descarregava a raiva de ser desobedecido por este filho magricela e desengonçado na fase da infância e por quem ele não nutria grande simpatia. É certo que a tareia era repartida entre mim e meu irmão mas não equitativamente. Devido à minha teimosia, a raiva era mais pródiga comigo. Nem uma lágrima, nem um soluço eu me permitia enquanto meu irmão chorava copiosamente. O meu ódio por aquele homem era de uma tal grandeza que me era possível sorrir perante a raiva e a humilhação que o meu pai sentia por se  ver desrespeitado… Hoje que sou pai e já também avô, não sinto mais rancor e até consigo compreender aquele que foi o meu progenitor. Hoje perdoo, compreendo e aceito a preferência que ele manifestava pelo meu irmão. Ele era o filho obediente e meigo.
O prazer de dizer não manteve-se comigo durante muitos anos levando-me ao ponto de recusar alimentos que me ofereciam mesmo estando a morrer de fome…
Sei que a vida de meu pai não foi fácil tendo que acumular vários empregos, chegar a casa cansado e ter ainda que trabalhar ouvido a risota dos filhos no quarto ao lado.
Hoje é natural que consiga conviver com um certo à vontade com o NÃO do meu neto de três anos. Ignoro simplesmente o NÃO retirando-lhe o efeito do prazer que lhe dá dizer: NÃO!

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