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domingo, 31 de janeiro de 2021

DIÁRIO DE UM CÃO

Hoje foi um dia mau. Sinto-o no cheiro. Sim porque de cheiros percebo eu. Quando o dono mostra os dentes naquilo a que os humanos chamam de sorriso fico sempre apreensivo. Não sei se aquele esgar é um sorriso ou se ele vai morder alguém que esteja próximo. Nós, os cães só mostramos os dentes para ameaçar e, em casos extremos, podemos mesmo morder.

Hoje foi um dia mau, sinto-o no cheiro, por isso hoje não há sorrisos e se o dono mostrar os dentes é seguramente para morder.
Na hora de jantar, como sempre, as crianças são as últimas a sentar-se à mesa. Elas não sentem o cheiro e não sabem que hoje foi um dia mau. É pena que os humanos sejam tão limitados no que respeita ao faro! Receio que aquelas risadas acabem mal. O dono hoje está sem paciência. Mesmo assim sento-me no chão ao lado do dono à espera que caia um osso ou alguma carne mas hoje nada… Como todos os cães, compreendo e não guardo ressentimentos, hoje está a ser um dia mau e por isso o dono precisa mais da minha companhia.
Depois da refeição vou para o sofá da sala atrás do dono. Abano a cauda embora hoje ninguém repare em mim. Apoio a cabeça na perna dele e fico ali muito quietinho. Precisava de ir à rua fazer as minhas necessidades e cheirar aqui e acolá mas hoje nem me atrevo, hoje está a ser um dia mau. Se calhar ninguém me vai levar à rua e eu apertadinho… lá terei que fazer no chão? Parece que já estou a ouvir os gritos da dona, cão porco, foste mau.

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