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quinta-feira, 14 de julho de 2022

A CARTA

Querida irmã,
Hoje tive tempo e vontade de te escrever. Ainda não sei bem como enviar esta carta ou o que ela possa ser. Não estou preocupado com o envio desta carta porque estou convicto de que a irás receber… De todo o coração desejo que estejas bem,… onde quer que te encontres.
Estranho, não achas? Passei o dia a reviver a casa dos pais onde a certa altura também foste morar. Vieram-me à memória as noites passadas ao serão em frente à televisão sem proferir palavra… Nesse tempo, eramos puros. Não no sentido restrito da palavra pois já tínhamos percorrido vários caminhos sem saída. Mas de certo modo, posso dizê-lo, eramos puros e comunicávamos sem recorrer à palavra. Sabia sempre o que querias dizer assim como tu me adivinhavas o pensamento… por isso deixamos de falar para verbalizar o pensamento. Bastava uma troca de olhares para desencadear o riso ou as lágrimas perante as cenas que a televisão nos oferecia. Esta atitude, além do ciúme que gerava de modo que ao referir-se a um de nós, a mãe sempre dizia, a tua alma gémea.
Nesse tempo, eramos puros… O veneno da intriga ainda não nos corroía por dentro. O mesmo veneno que nos afastou durante anos. Quem o lançou não teve essa intenção,…
Um turbilhão de lembranças foi desfilando na minha mente até ao último jantar que presidiste. Nunca esquecerei a tua dignidade à mesa, apesar da doente, conseguiste brilhar com o brilho de outrora, de tal forma fingiste que cheguei a convencer-me que irias melhorar…
Termino aqui já que estas lágrimas, as lágrimas de saudade, não permitem que continue a escrever.
Do teu irmão

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