A vida já era difícil era ainda uma criança…
Nesse tempo, teria eu cerca de seis ou oito anos, como “guarda livros” de profissão
o meu pai era obrigado a fazer “escritas” à noite e a deslocar- se com alguma
frequência ao Douro, mais precisamente lá
para os lados da Régua, depois do trabalho para ganhar mais algum dinheiro com
o fim de manter a casa e os filhos com alguma comodidade.
Nessas noites em que ele regressava já tarde a
casa, mimava-nos, com os célebres rebuçados da Régua… O hábito de trazer os ditos
rebuçados era religiosamente cumprido até que uma noite não houve a distribuição
tão ansiosamente aguardada… Acho que nunca lhe perdoei quebrar assim a promessa
mas também nunca ousei perguntar-lhe por que razão não tinha comprado os
benditos rebuçados. Talvez tenha chegado atrasado à estação de comboios sem o tempo
indispensável para os comprar, talvez a senhora que os vendia não tenha
aparecido por qualquer motivo de força maior ou por qualquer outra razão
seguramente não imputável à sua pessoa… Mil e uma razões poderiam estar por
trás desta ausência e que justificavam não haver s distribuição de um simples
rebuçado…
Compreendo agora essa e muitas outras ausências
mas esse tempo passou.
Ainda hoje prefiro que não me façam promessas. Qualquer
promessa cria expectativas que humedecem os olhos e provocam
aquele nó no estômago que todos conhecem. Atualmente continua a aguardar como
um menino o seu rebuçado.
Muitas promessas são quebradas por motivos
perfeitamente justificáveis… Mesmo assim prefiro que não me prometam nada
porque as pessoas mudam, as condições de vida alteram-se, os momentos passam e
as promessas quebram-se…
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