Dizia Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) no seu poema "Em linha recta":
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Mas nós, os da minha geração, quando éramos putos, levávamos porrada daquela mesmo a sério e às vezes por “dá lá aquela palha”. Que passe a expressão já que todo o burro come palha… mas os nossos pais não.
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
Mas nós, os da minha geração, quando éramos putos, levávamos porrada daquela mesmo a sério e às vezes por “dá lá aquela palha”. Que passe a expressão já que todo o burro come palha… mas os nossos pais não.
As
ordens dadas nunca eram repetidas e, quando não acatadas, lá vinha mais um
bofetão. Hoje diríamos (a medo), um açoite. Naquele tempo não se conheciam “os
direitos da criança” nem existia a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens.
Apesar do que ficou dito, sou
absolutamente contra os chamados castigos corporais e a implementação do “respeito” através do temor…
Contudo
devo confessar que muito tabefe que levei foi muito bem aplicado, na hora
certa e nem por isso deixou cicatriz no corpo ou na alma. Ainda está por descobrir a alternativa eficaz à milagrosa
palmada no rabo em situações extremas como quando o puto resolve atravessar a rua
largando a mão do progenitor. Não conheço nenhum discurso pedagógico que
seja tão eficaz quanto a palmada dada no momento certo. Até porque passados poucos
segundos a criança já não retém absolutamente nada do discurso.
Vem daí, dos meus tempos de criança esta rebeldia, orgulho e inconformismo perante situações de injustiça social que nem toda a porrada conseguiu vergar. Nessas ocasiões,
lembro-me de cerrar os dentes e pensar: rais me parta se vou chorar.
Dizendo isto arranjava forças para aguentar e nem uma só lágrima rolava pela face.
Hoje
em dia era inadmissível praticar este tipo de “educação” até porque existem
leis de protecção à criança e mesmo que não existissem, tentaríamos sempre
evitar fazer as nossas crianças passar pelo mesmo.
Mais
tarde, quando adultos, a vida vai-nos ensinando a levar, isto é, ela própria se
vai encarregando de nos dar porrada. Já tenho levado alguma e talvez ainda vá
levar mais mas rais me parta se vou chorar…
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