Lembras-te?
Lembras-te
daquela noite?
Até a
mim me surpreendeu este súbito acesso de memória!
Há
noites assim que a gente não esquece.
Nessa
noite, tu ainda eras tu e eu, eu era outro.
Lembras-te?
Foi
numa noite de S. João e nós dois sozinhos, tendo apenas a TV por companhia,
desdenhávamos do “povinho” que desfilava pela rua não tanto por desdém mas por
ninguém nos ter convidado…?
Nesse tempo éramos tão
cúmplices que nem era precisa uma única palavra para entabularmos uma grande
conversa. Também sabíamos quando o silêncio era o melhor a dizer porque o
silêncio entre nós não era só silêncio. Apenas com os nossos olhares nos
entendíamos.
Por uma
estranha conjugação astral ou por influência de São João, demos por nós a
confessar nossos segredos mais profundos. Segredos só dessa vez verbalizados o
que nem teria sido necessário por demais já serem conhecidos…
Nesse
tempo, tínhamos os nossos segredos, segredos como aqueles que só são partilhados
entre irmãos que nem precisam ser do mesmo sangue…
Lembras-te?
Era noite de São João e nós desdenhávamos do “povinho” que desfilava pela rua armados
de alho-porro. Nesse tempo a tradição era dar a cheirar a flor do alho-porro ou
a cidreira e só mais tarde deram lugar ao plástico dos infernais martelinhos.
Naquelas
noites, tendo por companhia apenas a TV, éramos tão felizes sem saber…!
Há dias... e noites assim
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