O
senhor Joaquim era marceneiro. Digo era porque actualmente o senhor Joaquim já
não é nada. O mais que poderia ser era cinza, pó e… nada. O senhor Joaquim já
não existe mas ficou em mim a recordação do que ele era. Recordo-o como um
homem pacífico, trabalhador, e caseiro. Raramente era visto na mercearia da
esquina onde, ao fim da tarde, se juntavam os homens lá do Largo para beber uns
“quartilhos” de tinto e jogar as cartas. Nesse tempo, o vinho era vendido ao
“quartilho” e raramente ao litro porque os “escudos” não abundavam e
contavam-se os tostões. Lembro-me de fazer recados e de ir à mercearia comprar
três tostões de salsa. O senhor Joaquim tinha oficina na rua do Sol e daí
seguia calmamente para casa ao fim do dia. Lembro-me dele como um homem de
meia-idade quando eu ainda era menino. Quando digo menino refiro-me a ser
menino de 6 ou 7 anos. Na oficina do senhor Joaquim, que me lembre, não se
construíam móveis. Faziam-se apenas pequenas reparações como colocar o fundo ou
a perna de uma cadeira que se partira. Nesse tempo os móveis consertavam-se
quando estragados, não se corria ao Ikea a comprar novos. O Ikea nem sequer
existia tal como também já não existe o senhor Joaquim… Todos os dias, a
caminho da escola, passava à porta da oficina e quase sempre via os mesmos
trastes que ali ficavam à espera de serem consertados. Não havia máquinas tudo
era feito à base do serrote, formão, maço, martelo e pouco mais. Não faço ideia
como era a oficina por dentro, ali reinava a escuridão. Hoje me interrogo se o
que ganhava naquela oficina daria para sobreviver. Mas naquele tempo,
contavam-se os tostões e na mercearia da esquina havia “o livro de fiados” e lá
se ia pagando ao fim do mês, depois de contados os tostões.
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