Hoje foi um dia mau. Sinto-o no cheiro. Sim
porque de cheiros percebo eu. Quando o dono mostra os dentes naquilo a que os
humanos chamam de sorriso fico sempre apreensivo. Não sei se aquele esgar é um
sorriso ou se ele vai morder alguém que esteja próximo. Nós, os cães só
mostramos os dentes para ameaçar e, em casos extremos, podemos mesmo morder.
Hoje foi um dia mau, sinto-o no cheiro, por
isso hoje não há sorrisos e se o dono mostrar os dentes é seguramente para
morder.
Na hora de jantar, como sempre, as crianças são
as últimas a sentar-se à mesa. Elas não sentem o cheiro e não sabem que hoje
foi um dia mau. É pena que os humanos sejam tão limitados no que respeita ao
faro! Receio que aquelas risadas acabem mal. O dono hoje está sem paciência.
Mesmo assim sento-me no chão ao lado do dono à espera que caia um osso ou alguma
carne mas hoje nada… Como todos os cães, compreendo e não guardo
ressentimentos, hoje está a ser um dia mau e por isso o dono precisa mais da
minha companhia.
Depois da refeição vou para o sofá da sala
atrás do dono. Abano a cauda embora hoje ninguém repare em mim. Apoio a cabeça
na perna dele e fico ali muito quietinho. Precisava de ir à rua fazer as minhas
necessidades e cheirar aqui e acolá mas hoje nem me atrevo, hoje está a ser um
dia mau. Se calhar ninguém me vai levar à rua e eu apertadinho… lá terei que
fazer no chão? Parece que já estou a ouvir os gritos da dona, cão porco, foste
mau.
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