Ultimamente,
a coisa repete-se muitas vezes. Quando digo ultimamente, quero dizer há largos
anos… no tempo em que os animais falavam o que significa, o tempo em que era
feliz, se alguma vez o fui, e não sabia.
Naquele tempo,
não havia jantar que não terminasse em poesia, fosse de quem fosse, mas sempre declamada
magistralmente pela tua voz.
Nestes
momentos, assalta-me a memória a casa de Gaia, a mobília da sala de jantar da
qual já guardo saudades, a tua face de olhos cansados, a inocência perdida ao
longo dos anos… .Agito a cabeça (muito devagar conforme me foi recomendado) na
vã tentativa de que tudo volte atrás mas o que já foi, não volta a ser.
Não me
guio por estudos e muito menos por estatísticas mas desta vez, é a Universidade de Harvard quem nos diz que o
mês de Setembro (até 1999) regista um número recorde de nascimentos. Este
estudo, publicado no New York Times, só vem comprovar o que já sabíamos através
da prática. Não há cão e gato (sem ofensa) que não faça anos neste mês. E o
orçamento familiar que o diga!
Desta
vez, foi a vez do meu genro. Pensando um pouco, não é de admirar que assim
seja. Dezembro, pleno inverno, é um mês adequado para “fazer” bebés. Há quem
explique este boom através do grande consumo de álcool que se verifica no Natal
e Passagem de Ano, mas não é por aí que pretendo entrar.
Celebrava-se,
com toda a família reunida, mais um aniversário. Então, por uma estranha magia,
ouço outra vez a tua voz, o poema já muito gasto e quase esquecido que dizias por
altura do meu aniversário: Ainda se os
desfizesse…mas fazê-los não parece de quem tem muito miolo!
Com que então caiu na asneira
De fazer na quinta-feira
Vinte anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois que se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!
De fazer na quinta-feira
Vinte anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse...
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!
Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado...
Agora o que vem, aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal: porque os anos
Que nos trazem? Desenganos
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa: que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.
Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois que se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los queira ou não queira!
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