O dia começou para mim praticamente de boca aberta. Mais
precisamente, não o dia, mas a minha pessoa. E lá estava eu sentado naquela maldita
cadeira de dentista que, para mim, é uma verdadeira cadeira de tortura. O
médico não me exigiu nenhuma confissão, mas se o fizesse, eu confessava tudo,
mesmo aquilo que não fiz ou tencionava fazer. O suor já me escorria pela testa
e pelas costas abaixo mesmo antes de iniciada qualquer prática odontológica. Com
o sorriso mais seráfico que conseguiram arranjar, médico e a assistente
garantem-me que não vai doer nada. Eu penso, pois não, o pior vai ser depois de
passar a anestesia. Mas eles fingem não saber desse pormenor. Mas por que carga
de água não fazem estes tratamentos com anestesia geral? Bem sei que é preciso
manter a boca aberta. Podiam arranjar qualquer dispositivo que mantivesse a
boca escarranchada enquanto o paciente se encontrava anestesiado. Mas não,
ninguém se deu ainda ao incómodo de inventar uma coisa tão simples. Estou
convencido que gostam de nos ver sofrer incapazes de soltar um grito daqueles
bem sonoros precisamente por nos manterem de boca aberta. Não sei bem quanto
tempo fiquei ali deitado a sofrer as maiores torturas que se possam imaginar
numa situação destas.
Lá diz o ditado, “a seguir à tempestade, vem a bonança”. Com
este ditado, quer a sabedoria popular dizer que, por mais complicadas que sejam
as situações que possam surgir na vida, segue-se sempre um período de calma e
sossego. Será que assim acontece… sempre? Reservo algumas dúvidas. A ver vamos.
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