Todo a gente sabe que as
bonecas não falam. Mas algumas têm uma história de vida para contar. Uma
história que ninguém ouve, que ninguém lê, que ninguém vê…
Lá do escuro do mais
fundo de um armário onde ficaram esquecidas por alguns anos, as bonecas que
foram companheiras de infância da minha filha, voltaram à luz do dia. Depois de
um banho completo e vestidas com roupinha lavada, aguardam o crescimento da
Rita para serem embaladas por ela tal como já foram pela mãe dela. Estas
bonecas testemunharam a nossa angústia quando, manhã cedo, esperávamos a
abertura do supermercado para as comprar com medo que esgotassem e não
pudéssemos satisfazer o pedido da filhota ao Pai Natal... Elas poderiam contar as
mil e umas brincadeiras a que se submeteram enquanto os meus filhos aguardavam que
os pais chegassem do trabalho, as viagens entre a nossa e a casa da avó no
Porto, as birras e as lutas entre irmãos, enfim, toda uma história de vida, da
nossa vida… Minha filha cresceu, tornou-se mulher e mais tarde mãe e as bonecas
acabaram esquecidas no fundo de um armário enquanto aguardavam melhores dias
que teimavam em não chegar. Nasce o primeiro neto, sendo um rapaz, tudo
indicava que as bonecas não mais sairiam do esquecimento a que foram votadas. Até
que, um belo dia, nasceu a Rita. Aleluia, gritaram as bonecas em uníssimo.
Depois do banho e
aperaltadas com a roupa lavada, quase tenho a certeza de ter escutado o
“Nenuco” sussurrar para o bebé chorão; Espero
que a menina goste de nós…
Quem disse que as
bonecas não falam?!
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