Falar de solidão,
para mim, é como falar de uma velha conhecida que me acompanhou ao longo de
vários anos e por diferentes locais que percorri no exercício da minha vida
profissional. É óbvio que nem sempre estive só. Contudo pode sentir-se solidão
mesmo rodeado por muita gente. A solidão acompanhada pode ser bem pior que o
isolamento.
Há que distinguir
solidão de isolamento. Considero que isolamento é quando voluntariamente nos
afastamos dos outros para estar em paz com o nosso eu. Desde que voluntário e esporádico,
o isolamento pode ser gratificante em termos de equilíbrio emocional e muitas
vezes leva e expressões artísticas criativas.
Durante muitos anos
senti a solidão por falta de amizades e da presença dos meus familiares mais
próximos vivendo em terra estranha. Do alto do meu pedestal não permitia a
aproximação dos outros e acabava sempre sozinho mais por culpa minha do que
pelo afastamento dos outros. Por vezes ainda sinto vontade de saltar de novo
para o pedestal. Lá em cima sentia-me protegido contra as agressões. Era uma
forma de me proteger do sofrimento. Esta situação arrastou-se até ao dia em que
compreendi que o sofrimento faz parte da partilha da nossa vida com aqueles que
amámos. Mas não foi suficiente descer do pedestal. Havia ainda outro obstáculo
a ultrapassar. A minha natural dificuldade de comunicação. Foi um trabalho
árduo que durou anos mas lá fui conseguindo derrubar muralhas, descer a ponte
levadiça e deixar entrar aqueles que amo… É uma tarefa inacabada mas não
desisto de investir arduamente na sua consecução.
Há dias assim em
que lá vamos tentando aceitar que, tal como nós, os outros não são perfeitos e
nos podem magoar mesmo sem intenção e que o sofrimento é intrínseco às relações
humanas…
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