Tinha acabado de me
instalar à mesa do café com o bloco de notas à minha frente, decidido a
escrever qualquer coisa para postar aqui, quando na mesa ao lado se instalaram duas
“tias” fazendo jus ao tipo de linguagem usada… A loira defendia acerrimamente o estilo de um vestido cor-de-rosa que tinha visto de manhã. Na sua opinião ficava-lhe lindamente. Já a morena, não partilhava da mesma
opinião. Achava ela que ficava muito justo no peito da amiga. Aquele arrazoado
entre elas lá se ia prolongando sempre à volta do mesmo tema. Já que não
conseguia concentrar-me na escrita, pus-me a observar o movimento na rua através
da vidraça. Vi chegar uma senhora idosa de aspecto modesto, acompanhada de uma
criança obesa. Sentaram-se precisamente na mesa à minha direita. Na outra mesa o
tema de conversa continuava a ser o tal vestido cor-de-rosa mas agora a morena
insistia que também acentuava demasiado as ancas da loira. Nessa altura eu já
estava convencido que a morena estava interessada no vestido… Era obvio que o seu objectivo era dissuadir a amiga da compra para ela ir lá a correr comprá-lo...
Entretanto, o empregado
aproximou-se da mesa da senhora idosa e colocou-lhe um galão à frente e um
“semol” mais um “curassam” com fiambre à frente da criança obesa. Na mesa das “tias”,
a loira começou a fungar num choro reprimido em reação ao insulto da amiga que insinuava que ela tinha engordado bastante. Na outra mesa, a criança insistia em comer
outro “curassam” e a “bo” recusava argumentando (com toda a razão), que ele estava demasiado gordo.
Cala a boca bo. Tu é que és gorda, pareces uma
baleia. Dizia o monstrinho.
Nessa altura eu já me imaginava a apertar-lhe o pescoço enquanto uma chuva de croissants lhe jorrava boca fora…
Nessa altura eu já me imaginava a apertar-lhe o pescoço enquanto uma chuva de croissants lhe jorrava boca fora…
A senhora remeteu-se
ao silêncio envergonhada e desatou num choro manso. Agora havia choro de ambos
os lados da minha mesa. Entretanto chegou-me ao nariz um pivete denunciador de que
o monstrinho, sentado de costas para mim, se tinha “aliviado”. Não sei se as
tias também se aperceberam porque entretanto tinham parado a discussão. O
monstrinho estava agora a devorar o segundo croissant e de novo se difundiu
pelo ar o tal pivete mas desta vez acompanhado de um ruído característico. As duas
“tias” olharam-me surpresas com ar reprovador. Encolhi os ombros como a dizer
que não tinha nenhuma responsabilidade na origem daquele pivete. Não sei como
interpretaram o meu encolher de ombros porque chamaram o empregado, pagaram e
saíram sem que primeiro me lançassem um olhar reprovador.
Há dias assim em somos punidos pelos nossos instintos criminosos mesmo sem os ter cometido.
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