Embalado ao som do rodado da carruagem nos carris e do zumbido irritante
do ar condicionado do outro lado do corredor, o pensamento liberta-se saltitando
de pensamento em pensamento. De um lado e do outro a paisagem corre em sentido
contrário a uma velocidade vertiginosa. Não sei onde vai, apenas sei para onde
quero chegar. Consigo sentir já a impotência de quem nada pode fazer. Faço apenas
questão de estar presente. Nada mais posso fazer o que é já motivo de sobra
para minimizar o sentimento de impotência. Perante este pensamento fecho os
olhos só para não ver as imagens que rodopiam no meu pensamento o que as torna
ainda mais visíveis.
Chegam até mim as vozes abafadas dos outros passageiros. Não sei o que
dizem nem me interessa. Não me interessa o que dizem nem os seus problemas. Quando
o sofrimento físico ou moral prevalece, fica-se mais egoísta.
A paisagem continua a correr em sentido contrário ao deslocamento do
comboio sem que alguém a possa conter. Viajo de costas como se com essa atitude
conseguisse virar costas aos problemas.
Naquela modorra anestesiante provocada pelo som constante do atrito das
rodas nos carris do, guardo o secreto desejo de que a viagem nunca termine.
Lá fora, a paisagem começa a abrandar recusando-se a acompanhar o
comboio que começa a diminuir a marcha. Por fim, detém-se. A viagem chegou ao
fim.
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