Por saudosismo ou por que
vinha a propósito, relembrei os livros da minha “instrução primária”. Entre
eles, o que mais me marcou pelos seus magníficos desenhos, foi o livro da
primeira classe.
Como acontece sempre na
vida de uma criança, chegou aquele dia em que, obrigatoriamente, fui à escola pela
primeira vez. Para alguns, é um dia de alegria enquanto que, para outros, a
tristeza marca para sempre a vida de um indivíduo. À alegria de fazer novas
amizades e das brincadeiras no recreio, sobrepunha-se o natural receio do
desconhecido mas, sejam quais forem os sentimentos que desperte, o primeiro
dia é inesquecível. Recordo vagamente esse dia e devo confessar que não é das
memórias mais gratificantes. Lembro a fotografia tirada no jardim anexo à casa com
o fim de assinalar o primeiro dia de escola. O familiar que fazia as vezes de fotógrafo
ordenou-me que sorrisse. Sorri. Outro familiar conduziu-me até ao portão da
escola onde fiquei entregue a mim mesmo… Como não conhecia ninguém e devido ao meu
temperamento, não fiz amizades nem brinquei com ninguém. Ao toque da campainha segui
atrás dos outros para a sala de aula. O professor, um homem bondoso e autor de
livros propôs, como primeira tarefa, que fizéssemos um desenho. Com este
procedimento, conseguiu aliviar o nó instalado no meu estômago. Nesse
dia não chorei. Há muito que tinha interiorizado que um homem não chora. Desde esse dia, passei a chorar por dentro já
que, em certos momentos, toda a criança tem vontade de chorar… e existe sempre
uma criança escondida dentro de cada um de nós.
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