Ninguém
nos avisa quando somos novos, e muito menos depois de velhos, que a nossa zona
de conforto pode mudar repentinamente. É daquelas coisas que toda agente sabe,
mas ninguém se atreve a verbalizar.
Três vezes
por semana (pelo menos), pego na bengala e percorro a galeria no meu passo
ziguezagueante, desço as breves escadas lenta e cuidadosamente que conduzem ao
estacionamento onde me espera a viatura que me conduzirá ao hospital. O que dantes
me parecia levar imenso tempo, actualmente, demora muito mais…
Tudo
isto porque um dia adormecemos com a nossa idade e acordarmos com a idade que
teria a nossa mãe, se fosse viva. Pois é, ninguém nos avisa que nos tornaríamos
lentos depois de velhos. Não nos sobra tempo para uma adequada habituação à nossa
nova postura. Tudo acontece depressa demais e o mal (ou bem) é que nos
lembrarmos do tempo em que já fomos rápidos… Então, desprezávamos a lentidão
dos que nos são próximos, e não só, e pensámos que “isso” nunca acontecerá connosco.
Hoje,
sorrio quando chego à portaria, não por ter conseguido chegar, mas pelo sorriso.
Sorrio ao empregado do café, a toda a gente e ando devagar sem que isso me envergonhe
ou aborreça, quero crer. Ouço com frequência a canção que hoje em dia me baila na
mente a toda a hora, ando devagar porque
já tive pressa e levo este sorriso porque já chorei demais…
Os dias
em que calcorreava veloz por essas ruas fora podem ter terminado, com muita
pena minha, mas decidi continuar em frente. E quando eu decido…
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