Por um daqueles impulsos saudosistas incontroláveis, como é vulgar acontecer ao comum dos
mortais, adquiri os livros da minha “instrução primária”. Eram assim designados
os quatro primeiros anos de escolaridade. De todos esses livros, o que mais me
ficou gravado na memória foi o da 1.ª classe. Como acontece na vida de qualquer criança chega sempre o dia de ir à
escola pela primeira vez. É um dia de alegria para uns, de tristeza e receio para outros. À
alegria de fazer novas amizades e da brincadeira no recreio, junta-se o medo de
enfrentar o desconhecido… Seja ele qual for, estes sentimentos fazem do primeiro dia de
escola um dia inesquecível. São imagens que ficam gravadas para sempre nas
nossas memórias de infância. Recordo, embora vagamente, o meu primeiro dia de
escola e devo confessar que não é de todo uma memória muito gratificante.
Lembro-me de acordar mais cedo para tirar uma fotografia que ficaria para a
posteridade… O cenário escolhido foi o jardim público que ficava ao lado do
prédio onde morava. O fotógrafo, meu pai, mandou-me sorrir. Sorri, mas por
dentro o receio do desconhecido apertava-me o estômago. Foi a vez de a minha
mãe me acompanhar até ao portão da escola onde me deixou entregue à minha
sorte. Como não conhecia ninguém e devido à minha peculiar timidez, não fiz
amizades nem brinquei com ninguém. A campainha tocou e lá fui atrás dos outros
para a sala de aula. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro professor. Creio
que se chamava António Branco e era autor de livros escolares. Era um homem um
tanto distante mas de uma estrema bondade o que me permitiu afrouxar um pouco o
nó que sentia na no peito e no estômago. Como primeira tarefa, mandou-nos fazer
um desenho talvez com o intuito de nos ajudar a descontrair. Algumas crianças
ainda choravam desde o momento que as mães as tinham deixado na escola. Eu não
chorei. Há muito que tinha “aprendido” que um
homem não chora e que isso era coisa de mariquinhas. Desde aí, passei a
chorar por dentro já que toda a criança tem necessidade de chorar para crescer
e há sempre uma criança que permanece dentro de cada um de nós…
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