A vida já era difícil no meu tempo de criança…
estou a reportar-me à década de cinquenta, teria eu seis a
oito anos. Nesse tempo, o meu pai era obrigado a fazer “escritas” (como Guarda-Livros) à
noite, depois do trabalho diário, lá para os lados da Régua para equilibrar o orçamento familiar. Nessas noites em que ele regressava já tarde a casa, mimava-nos, a
mim e a meu irmão, com os célebres rebuçados da Régua. A promessa de trazer os
rebuçados era religiosamente cumprida até uma noite em que não houve
distribuição de rebuçados… Acho que nunca lhe perdoei ter quebrado a promessa mas também nunca lhe perguntei por que razão não tinha comprado os ditos rebuçados. Talvez
tenha chegado atrasado à estação de comboios sem tempo para os comprar, talvez
a senhora que os vendia tenha estado ausente no posto de venda, talvez por outro
qualquer motivo seguramente não imputável à pessoa do meu pai…
Prefiro que não me façam promessas. As
promessas criam expectativas, humedecem os olhos, formam bolas
de ténis no estômago. Ainda hoje me volto a sentir o menino expectante perante a
promessa de um rebuçado e quando alguém quebra a promessa, sinto a mesma
revolta, a mesma decepção, a mesma dor…
Já me fizeram muitas promessas e também muitas delas foram quebradas…Por isso, não me prometam nada, porque as pessoas mudam, as
condições de vida alteram-se, os momentos passam e as promessas quebram-se…
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