Tudo passa. O tempo passa, as pessoas
mudam, as circunstâncias que as rodeiam mudam… Enfim, nada permanece inalterado
ao longo das nossas vidas, a não ser o silêncio que nos acompanha umas vezes
desejado, outras odiado mas sempre presente… Desde muito novo o silêncio foi
meu companheiro de vida embora nem sempre indesejado. Lembro-me do silêncio daqueles serões a sós com a
minha irmã, sentados no sofá frente à TV. Os seus comentários sempre irónicos,
ironia que eu partilhava com ela, em certas noites eram os únicos elementos
perturbadores desse silêncio. Por vezes, encadeávamos nos comentários
confidências tão íntimas, partilhadas de forma tão descontraída como jamais
voltaria a ter fosse com quem fosse… Muitas vezes, essas conversas eram interrompidas pela minha mãe
ou do nosso padrasto enciumados da nossa amizade.
Mais tarde, quando nasceram os filhos,
nunca o silêncio foi tão desejado quando ingloriamente se tentava acalmar as brincadeiras
e as brigas das crianças…! Esse silêncio outrora desejado, acaba por se tornar
deprimente ao propagar-se pela casa vazia de crianças…
Hoje as crianças já não são crianças…
minha filha cresceu e já é mãe. O meu filho formou-se e emigrou para França. Tudo
na vida é passageiro, e chega o dia em que o burburinho da alegria e das zangas
se transforma em silêncio.
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