Ao deparar com um queijo
flamengo sobre o balcão da cozinha, fui transportado a outra época, a outros
tempos que recordo com saudade. O sentimento não se devia ao queijo mas daquela
segurança que dava a presença dos pais como uma guarda avançada entre mim e a
própria morte… Pela ordem natural da vida, eles deviam partir primeiro o que me
permitia pensar ingenuamente que a minha hora ainda vinha longe…
Naquele tempo, havia o
curioso ritual, à laia de sobremesa, de degustar uma ou mais fatias de queijo. Toda
a mesa se reunia à volta do queijo. Depois
do jantar e da “sobremesa”, havia sempre lugar para um cafezinho instantâneo ao
qual era adicionado um “cheirinho” de bagaço adquirido directamente ao lavrador…
Presumo que a preferência pelo queijo flamengo em detrimento do queijo da serra
venha daí. Estou mesmo convencido que a escolha deste tipo de queijo para
sobremesa não se devia ao meu gosto mas porque o queijo flamengo, nesse tempo, era
mais em conta.
Os anos passaram,
casei, fui pai e mais tarde avô e acabei por ficar na linha da frente… Pelo
menos, quero acreditar que deste modo, consigo entrepor-me à restante família…
Sem comentários:
Enviar um comentário