Embalado ao som do rodado da carruagem nos carris e do
zumbido irritante do ar condicionado mesmo ao lado do outro lado do corredor,
deixei a mente divagar saltitando por entre os problemas que me afectam no
momento. Dum lado e doutro da carruagem a paisagem foge a uma velocidade
vertiginosa. Não sei para onde vai, apenas sei o meu destino e por que vou. Sinto
já a impotência de quem nada pode fazer para aliviar a dor e o sofrimento de um
filho agarrado pela doença. Levo apenas a presença de quem não se quer ausente.
Nada mais posso fazer o que é já motivo de sobra para este sentimento de
impotência.
Fecho os olhos para não ver as imagens projectadas em
pensamento. Chegam até mim as vozes distantes de quem está próximo. Não sei o
que dizem nem me interessa. Não me interessam as vidas nem os seus problemas.
Quando se está em sofrimento, físico ou moral, tornamo-nos egoístas, pelo
menos, comigo assim acontece.
A paisagem continua a correr em sentido contrário ao
deslocamento do comboio. Viajo de costas para o meu destino como se quisesse
virar as costas aos problemas. Naquela modorra anestesiante provocada pelo som
constante do atrito das rodas nos carris, guardo o secreto desejo de que a
viagem não termine nunca.
Lá fora, a paisagem continua a correr para trás recusando-se
a acompanhar o comboio que começa a abrandar a marcha. Por fim, detém-se.
Esta viagem chegou ao fim. A minha continua… até quando?
Esta viagem chegou ao fim. A minha continua… até quando?
Um sentido relato das nossas viagens dolorosas, as insuportáveis. Até dói de tão belo e sentido. Força, Jorge.
ResponderEliminarObrigado Teresa. Foi mesmo uma viagem dolorosa para visitar o Ricardo internado no HSM em Lisboa.
EliminarEle é muito jovem, vai recuperar. E digo-lhe como me disse há algum tempo um amigo - "Quando te sentires triste, agarra-te aos teus textos".
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