Durante
muitos anos, como a maioria dos leitores, andei convencido que o coração era o
centro de toda a actividade humana. Era lá, pensava eu, que se encontravam todas
as emoções, desejos, aspirações e frustrações do ser humano.
Estava
redondamente enganado e aqui me retrato. A principal função do coração é exclusivamente
manter o sangue em movimento. Nada que uma sofisticada máquina não faça… Todas
as outras funções (respiração e alimentação) atribuídas erradamente ao coração,
devem-se apenas ao sangue.
Depois de
aberto e retalhado, nada encontraram dentro desse órgão senão um grande coágulo
que ameaçava a toda a hora desprender-se e invadir outras zonas vitais do corpo
humano não esquecendo o meticuloso trabalho de “remendar” algumas válvulas que
não estavam a desempenhar cabalmente a sua função… A não ser isso, nada mais
havia dentro do coração que fosse digno de integrar o relatório.
Mais
tarde, aberta a velha “caixa de Pandora” para retirar um angioma que felizmente
se revelou benigno, constei, e não foi preciso nenhum relatório, que era aí que
todas as emoções estavam guardadas. Nenhuma parcela até ao momento foi esquecida
ou sequer alterada. Todos os sentimentos residem nessa pequena caixa que carregámos para todo o lado sem disso ter
consciência.
Não sei
se feliz ou infelizmente nenhuma recordação foi minimamente afectada pela
intervenção cirúrgica. Já não digo o mesmo no que se refere ao aspecto físico…
Aí revela-se a necessidade de um braço amigo que atenue o desequilíbrio
característico dessa intervenção.
Exceptuando-se
o aspecto físico, todas as outras funções permaneceram milagrosamente
inalteráveis. Hoje carrego comigo todo um passado onde é impossível voltar mas que
não me é permitido esquecer.
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