Esta
semana fui surpreendido com a noticia da morte do meu médico de família. Foram
só duas consultas, mas foi o bastante para fazer dele mais que um médico, um
amigo. Era assim que o via, sempre risonho e sobretudo, muito optimista quanto
ao meu estado de saúde. Nunca chegámos a falar nisso, mas sempre se mostrou
muito optimista, mais do que seria recomendável no meu estado actual, mas por
isso ainda gostava mais dele como médico.
É
compreensível o meu espanto perante esta realidade. Não foi tanto quem me deu a
notícia ou o fato em si. O que me deixou mudo de espanto foi ter de admitir, por
incrível que pareça, que os médicos também morrem.
No nosso
entender, meros pacientes, os médicos não morrem. Nós podemos passar por esta
vida, mas eles não. Ficam não para contar como foi, nunca contam, permanecem
mudos pelo juramento de Hipócrates.
Apesar
de todas essas razões, os médicos dispõem de outros recursos, tratamentos
médicos, que não são acessíveis ao comum dos mortais. Enfim, os médicos não
gostam dessa ideia peregrina que é morrer.
Na
realidade, embora disponham de múltiplos tratamentos, raramente se submetem a
eles. E morrem, morrem serenamente. Encaram de forma realista a possibilidade
de morrer. A serenidade com que encaram este fato talvez se deva à consciência
do que vai acontecer. Partem e, para nosso espanto, partem suavemente, de uma
forma quase submissa.
É
compreensível pois o meu espanto: afinal os médicos também morrem…!
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