Às vezes acontece, enquando se aguarda a vez de ser atendido no barbeiro, prestar atenção às
conversas daqueles que também aguardam a sua vez. Na opinião do senhor forte com
bigode sentado ao meu lado, um seu amigo era uma boa pessoa e justificava argumentando
que o dito amigo e vizinho não se mete na vida de ninguém, não diz nem faz mal
a ninguém. Mentalmente permiti-me discordar. Isto de ser boa pessoa depende
muito do critério com que se avalia o comportamento de uma pessoa. Na minha
opinião, não fazer mal a ninguém, não se meter na vida dos outros ou não ser
maldizente não significa ser boa pessoa. Para mim ser boa pessoa é precisamente
o contrário, isto é, não basta não fazer mal a ninguém. Isso define uma pessoa
neutra aquela que não faz mal, mas também não faz nada que possa contribuir
para o bem estar dos outros… Uma boa pessoa deve preocupar-se com os outros,
isto é, prestar ajuda mesmo que não solicitada, estar disponível para ouvir os
outros ou estar presente em momentos difíceis e, no mínimo, sorrir, sorrir
sempre…
Não sei se o senhor
forte com bigode convenceu o amigo que o escutava em silêncio parecendo
concordar. Abstrai-me por momentos da conversa dos dois e quando voltei a dar atenção, o tema de conversa tinha transitado para o regresso a casa do
cineasta Manoel de Oliveira depois do internamento no Hospital São João. O senhor
forte com bigode enalteceu-lhe o mérito como realizador e o seu dinamismo
apesar da avançada idade… Aí o amigo do senhor forte com bigode sentenciou com
um ar meio sério, meio jocoso: para ainda
estar vivo, não pode ser boa pessoa. As boas pessoas morrem cedo!
Risada geral (mesmo
eu não pude deixar de sorrir)… e dei por mim a pensar que, geralmente, a
maioria das boas pessoas que conheci morreram cedo, pelo menos na minha
família. Lá diz o outro:
Mas Deus leva os que ama
Sé Deus tem os que mais ama
(Trovante: 125 Azul)
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