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terça-feira, 4 de agosto de 2015

O COMPRIMIDO

Todas as noites tomo o meu comprimido. Podia tomar de manhã, ou à tarde, mas é à noite que o tomo. Não sei porquê, se por sugestão do cardiologista se por livre arbítrio, mas é depois do jantar que o faço. E porquê? Porque senão morro… Bem, diminuindo um pouco ao dramatismo, devia dizer, se não o tomar, é provável que morra ou talvez não. Mas não vale a pena fazer essa cara de enterro. Primeiro, porque ainda não morri nem tenciono fazê-lo tão cedo e depois, se pensar bem, também não está livre de morrer.
Basta dar um valente tombo;
Basta que se entupa uma artéria na sua cabeça;
Basta que se afogue na piscina ou no mar este verão;
Basta que o seu coração decida parar subitamente. Aí temos a tal de morte súbita…
Basta... Que esteja vivo.
Talvez exista por aí quem desejasse que eu não tome o comprimido. Eu sei que lhe daria uma grande alegria… Mas não, não o farei nem em nome do meu imenso altruísmo.
Todas as noites tomo o meu comprimido.
Podia tomar de manhã, à tarde mas é a noite que o tomo.
Às vezes esqueço-me, isso acontece raramente.
Às vezes viajo e esqueço-me de os levar comigo. São apenas alguns dias de abstinência…
Às vezes revolta-me esta dependência…
mas só às vezes.

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